Por Aline Moura - Bióloga/ Especialista em Ciências Ambientais
Certa
ocasião, um senhor chegou a um órgão ambiental deste município
requisitando o corte de uma árvore e o motivo declarado chamou atenção
pela sua estranheza.
O
sujeito começou sua narrativa se queixando de uma árvore localizada em
frente ao seu imóvel. Dizia o reclamante que caia muitas flores da
árvore na época da floração. “ Lá pro final de junho” esbravejava o
homem. “E como viajo muito neste período, não tenho tempo de varrer a
calçada que fica então toda coberta por flores ”. Neste momento achei
que o homem reclamava da” sujeira” que a árvore fazia.Foi então que
finalizou ainda mais alterado: “Os ladrões ao observarem as flores
acumuladas no chão, vão perceber que não estou em casa e vão roubar o
que eu tenho.”
Boa
desculpa para se cortar uma árvore, não acham? E eta ladrão esperto
este, hein? Mais tarde fui saber que a árvore “chama ladrão” era um
vistoso e imponente Ipê Rosa.
Parece
piada, mas é a pura rotina dos órgãos encarregados de analisar os
pedidos de corte de árvores: pouca gente interessada em plantar e muitas
interessadas em cortar. E os motivos na maioria das vezes são
injustificáveis, salvo os casos de interferência das raízes com as redes
de água e esgoto e outros poucos motivos que justifiquem realmente o
corte de uma árvore da arborização pública.
As
árvores muitas vezes acabam por levar a culpa pela falta de segurança,
como se sempre fossem elas a causa do problema instalado. Vejam só esta
outra situação que ilustra bem a questão: a solicitação agora é para o
corte de uma Sibipiruna - árvore nativa de porte grande muito utilizada
na arborização das ruas – a justificativa segundo a solicitante é que a
árvore poderia ser utilizada por meliantes para adentrar em seu
imóvel.Pois bem, no ato da vistoria, a surpresa: o muro do imóvel não
tinha mais que um metro e meio e a culpa pela possível invasão claro,
era da árvore.
Mas
a justificativa campeã em solicitações de corte é a “sujeira“ das
folhas nos passeios, que obrigam os moradores a varrerem suas calçadas.
Contudo tal justificativa na maioria das vezes vem camuflada atrás de
outros motivos não mais “nobres” do que este.
O certo é que, não importa o motivo, estamos perdendo nossas árvores.
O
diagnóstico sobre a arborização do centro da cidade realizado em 2010,
apontou um número de árvores bem menor do que o recomendado para
centros urbanos de uma cidade do porte de Itaúna e que vem
aceleradamente aumentando sua frota de veículos.
Das
486 árvores catalogadas, 207 ou estavam plantadas em locais
inadequados, como é o caso dos Ficus e das Castanheiras, utilizadas por
décadas na arborização do município e que possuem sistema radicular
agressivo e por isto necessitam de grandes espaços ou encontravam-se
debilitadas e no final da vida útil.
O
centro da cidade é um local de grande circulação de veículos, emitindo
gás carbônico e outros poluentes igualmente ou ainda mais tóxicos,
portanto deveria ser a área mais arborizada da cidade. Mas infelizmente
não é o que ocorre. A situação é a seguinte: os comerciantes não querem
árvores porque “atrapalham” as fachadas de suas lojas e os moradores
porque não têm tempo de limpar as calçadas.
Árvores,
caro leitor, são grandes prestadoras de serviços ambientais
fundamentais e sendo muito simplista, elas fornecem além da sombra, o
oxigênio que respiramos, absorvem grande parte dos poluentes lançados
na atmosfera, retêm parte da água pluvial, evitando as grandes
enxurradas e de quebra ainda funcionam como grandes umidificadores,
garantindo um ar menos quente e mais úmido. Tudo isto a um custo muito
baixo comparado aos benefícios gerados. Mas o que me parece é que todos
querem usufruir destes serviços sem pagar a conta, que, aliás, é
irrisória. Ora, quem não quer uma sombra para se esconder num dia quente
ou estacionar o carro debaixo de uma grande copa, contanto é claro que a
árvore esteja plantada no passeio do vizinho.
Árvore
certa plantada no local certo só traz benefícios. Pesquisas
desenvolvidas em países onde a arborização é tratada devidamente,
apontam que cada unidade monetária (o real, por exemplo), aplicada na
implantação e manutenção das árvores urbanas, o retorno financeiro pode
chegar a 4 unidades monetárias, retornados em saúde e bem estar para a
população.Em cidades bem arborizadas gasta-se menos com internações em
consequência de problemas respiratórios, o nível de estresse também
pode diminuir e até os índices de violência tendem a cair, uma vez que
locais bem arborizados inibem a ação de vândalos.Investir na arborização
das cidades, portanto também é um bom negócio para os municípios,uma
vez que economiza recursos dos cofres públicos. Infelizmente talvez
seja a única maneira de convencer os governantes de que plantar é
preciso.
Mas
atenção, se for plantar, escolha bem a espécie e o local do plantio,
com certeza os benefícios se estenderão bem além da sombra na porta de
sua casa. Mas se for cortar, analise bem a necessidade do corte para não
incorrer nos mesmos erros dos “ artistas” deste artigo.
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